O FIM DO PRINCIPIO
Acordei cedo e vi, através das persianas , o sol, lá fora...
Bastou levantar-me e aceder à varanda, para perceber que a promessa de um lindo dia se iria dissipar rapidamente...
No entanto, e como (penso eu) qualquer pessoa a meio caminho entre os 50 e os 60 anos, já não me deixei demover com a perspectiva de um dia cinzento, apesar da hipócrita promessa de um sol que já nao é certo como foi em outros tempos e levantei-me, porque a vida a cada segundo se esvai, o meu tempo vai ser escasso para pensar em tudo o que me assola o espírito, e ficar na cama só poderia aumentar-me a angústia...
Sim, o meu tempo tem angústias, apesar de não estar numa qualquer lista de desempregados, de ter provado que sou um cidadão que cumpriu os seus deveres, de não ter dificuldade em pagar a luz, de me poder dar a alguns luxos que muitos consideram neste momento uma miragem...
E as minhas angústias advêm, em muito, do facto de, como cidadão produtor de serviços ter cessado funções voluntária e temporáriamente (penso eu?), e perceber que a minha mente continua clara, e o meu espírito acutilante como um canivete suiço... O que fazer com a energia que me resta?
Sempre fui exigente. Comigo e com os outros. Sempre me dei ao luxo de criticar, mas tive também o cuidado de evitar cometer os erros que reconhecia ver nos outros. E continuo, com a idade do barão que pode relaxar no cadeirão qual gato dorminhoco e feliz, a sentir, a ver e a pensar naquilo que já ficou para trás, sem contudo deixar de reflectir no que a vida ainda me permite vislumbrar... Coisas de idade avançada!...
Não sou muito falador!Não finjo interesse por conversas que para mim as não tem, mas gosto de uma boa discussão de ideias quando encontro quem tem ideias para discutir e sente interesse em o fazer comigo!
E assim, entre conversas interessantes e escutas de relatos às vezes arrepiantes, preencho muito do meu tempo em tarefas que não sou obrigado a fazer, que são monótonas, mecânicas, e que me permitem utilizar o que resta dos neurónios para uma reflexão sobre o que a vida me dá oportunidade de viver.
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Pois é... a esta altura da viagem, vivem-se mais as histórias dos outros, do que as histórias que já não somos capazes de construir por nós próprios...
Existe uma espécie de auto conhecimento através de uma série de histórias que não sendo por nós vividas, nos fazem viver, nos provocam ternura, revolta, ou febre que antibiótico algum é capaz de matar...
Tornamo-nos uma espécie de cogumelos que crescem, crescem desmesuradamente através da vivência dos outros, que se vai transformando no sentido da nossa própria vida...
E, mais uma vez, vem à nossa mente o antes, o tempo em que éramos nós que construíamos o filme da nossa vida, e a construção agora, da história dos outros que vamos, indelévelmente, transformando nas nossas próprias...
Foi com esta mescla de nostalgia e algum conforto que, uma destas tardes, senti o tempo retroceder vertiginosamente. Tão vertiginosamente que, numa fracção de segundo, este homem que dobra a última curva da estrada, já o não é. Tinha voltado a ser a semente que começa a germinar, de olhos curiosos e alguns receios...
Voltou a ser a semente que não sabe se vai ser um pé de feijão ou um morangueiro... que pode ser qualquer coisa, crescer em qualquer direcção...
Bastou levantar-me e aceder à varanda, para perceber que a promessa de um lindo dia se iria dissipar rapidamente...
No entanto, e como (penso eu) qualquer pessoa a meio caminho entre os 50 e os 60 anos, já não me deixei demover com a perspectiva de um dia cinzento, apesar da hipócrita promessa de um sol que já nao é certo como foi em outros tempos e levantei-me, porque a vida a cada segundo se esvai, o meu tempo vai ser escasso para pensar em tudo o que me assola o espírito, e ficar na cama só poderia aumentar-me a angústia...
Sim, o meu tempo tem angústias, apesar de não estar numa qualquer lista de desempregados, de ter provado que sou um cidadão que cumpriu os seus deveres, de não ter dificuldade em pagar a luz, de me poder dar a alguns luxos que muitos consideram neste momento uma miragem...
E as minhas angústias advêm, em muito, do facto de, como cidadão produtor de serviços ter cessado funções voluntária e temporáriamente (penso eu?), e perceber que a minha mente continua clara, e o meu espírito acutilante como um canivete suiço... O que fazer com a energia que me resta?
Sempre fui exigente. Comigo e com os outros. Sempre me dei ao luxo de criticar, mas tive também o cuidado de evitar cometer os erros que reconhecia ver nos outros. E continuo, com a idade do barão que pode relaxar no cadeirão qual gato dorminhoco e feliz, a sentir, a ver e a pensar naquilo que já ficou para trás, sem contudo deixar de reflectir no que a vida ainda me permite vislumbrar... Coisas de idade avançada!...
Não sou muito falador!Não finjo interesse por conversas que para mim as não tem, mas gosto de uma boa discussão de ideias quando encontro quem tem ideias para discutir e sente interesse em o fazer comigo!
E assim, entre conversas interessantes e escutas de relatos às vezes arrepiantes, preencho muito do meu tempo em tarefas que não sou obrigado a fazer, que são monótonas, mecânicas, e que me permitem utilizar o que resta dos neurónios para uma reflexão sobre o que a vida me dá oportunidade de viver.
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Pois é... a esta altura da viagem, vivem-se mais as histórias dos outros, do que as histórias que já não somos capazes de construir por nós próprios...
Existe uma espécie de auto conhecimento através de uma série de histórias que não sendo por nós vividas, nos fazem viver, nos provocam ternura, revolta, ou febre que antibiótico algum é capaz de matar...
Tornamo-nos uma espécie de cogumelos que crescem, crescem desmesuradamente através da vivência dos outros, que se vai transformando no sentido da nossa própria vida...
E, mais uma vez, vem à nossa mente o antes, o tempo em que éramos nós que construíamos o filme da nossa vida, e a construção agora, da história dos outros que vamos, indelévelmente, transformando nas nossas próprias...
Foi com esta mescla de nostalgia e algum conforto que, uma destas tardes, senti o tempo retroceder vertiginosamente. Tão vertiginosamente que, numa fracção de segundo, este homem que dobra a última curva da estrada, já o não é. Tinha voltado a ser a semente que começa a germinar, de olhos curiosos e alguns receios...
Voltou a ser a semente que não sabe se vai ser um pé de feijão ou um morangueiro... que pode ser qualquer coisa, crescer em qualquer direcção...