11.4.07

ENTRE LINHAS...

“Mateus…não sei como te dizer…mas o que começou como uma brincadeira, neste momento é doloroso…Ainda pensei não te dizer nada mas não acho que deva escondê-lo…” Diogo, afundado no sofá como se não quisesse ser visto, estende um envelope” chegou esta manhã. Sei que ela queria muito que o recebesses…desculpa, não posso deixar de te entregar isto que “ela” te mandou”. Diogo estava descontrolado, tímido, inseguro…
Estás a falar de quê, Diogo? Quem é que te…Não!”
“Sim, foi ela. Houve um atraso no correio. Entendes porque não sabia se devia ou não dizer-te?”
Mateus estendeu a mão, pegou o envelope e Diogo saiu como se fugisse. Afinal, como é que a vida o podia encurralar a ele, Diogo, Diogo azul e branco, e para além disso apenas amarelo, numa situação daquelas? Numa situação que envolvia os seus dois únicos amigos incompreensíveis e “não encaixáveis” na sua própria forma de viver, de ver a vida?
Mateus ainda tinha o envelope na mão, fechado, quando ouviu e viu pela janela, o carro desportivo do amigo arrancar como se fugisse de um fantasma. Sentou-se no cadeirão e acariciou o envelope. Sabia que fosse o que fosse, não seria fácil, e os seus olhos ficaram brilhantes, e húmidos, porque a saudade era recente, não tivera ainda tempo de aprender a conviver com ela, mas era já tão profunda que aquilo que tinha nas mãos e ainda não abrira, parecia vindo do mais profundo e longínquo lago que jamais visitara…